20 de abr. de 2012

Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Photo Credit: Henrique Vicente

VI 

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Fragmento do texto poético "Navio Negreiro", de Castro Alves.
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É... "Estamos em pleno mar" e estamos a navegar nesse tubo luminoso que nos liga a todo planeta. E ainda estamos a navegar. E ainda estamos nesse sonho dantesco de garotos a dormir em concreto revestido com os açoites de uma sociedade cegueta. E o caos não permite que eu esqueça que ainda estamos dentro dessa fotogenia miserável. E não é somente um indivíduo, mas uma nação. Uma nação que não se cuida, uma nação que ignora o próximo. Um povo que empresta sua bandeira para cobrir sua miséria. Mas continuaremos a navegar... entre gritos, dores, miséria, favelas e açoites.

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